quinta-feira, 21 de agosto de 2014

Cabelo é o de Menos!!!!!


Quando você ler este post, para que não pense que estou com câncer, contextualizarei minha história: tive câncer de mama em 2009. Nesse mesmo ano ano iniciei o tratamento e terminei a primeira parte em 2010. Em agosto de 2014, quando escrevo para o blog, me sinto curada e gratíssima a Deus por isso.
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Esta aí em baixo sou eu, no dia de cortar os cabelos, depois de ter chorado rios de lágrimas, escondido, é claro!

 


E estes eram os cabelos que eu tanto amava, e que chegaram aos 36 anos sem química alguma. Meu xodó.




Aniversário de 37 anos, já de cabelos curtos, uma semana antes deles me abandonarem. E meu filhinho que tinha 2 aninhos e 9 meses.

 
 
 
Minha amiga Cidinha, que também teve câncer de mama, e veio raspar meus cabelos quando eles começaram a cair, alguns dias depois da primeira sessão de quimio.
 



Careca, me sentindo exótica e linda, no início do tratamento. Observem o valor dos cílios e sobrancelhas.
 



Eu inchada, já sem cílios, quase sem sobrancelhas, me sentindo feia D+, depois da 6ª e última sessão de quimio. Só fiz essa foto porque queria registrar as fases do tratamento.




Bem inchada, com os cabelos voltando pra minha cabeça, 2 meses após última quimio. 
 
 
 
 
 Aniversário de 38 anos, 8 meses após a última quimio, com os cachinhos de volta.
 


Foto atual, com 41 anos, mas com cabelos novinhos: apenas 4 aninhos...




Era a última sexta-feira de novembro de 2009.

Sábado eu estaria em férias com meu marido e filho de 2 anos.

Fui ao médico para receber o laudo de uma biópsia. Cerca de um mês antes, num exame periódico, descobri um cisto complexo na mama – algo como uma bexiga cheia de água com um tumorzinho sólido dentro. Eu estava com 36 anos, e os médicos que me atenderam disseram que não devia ser nada grave, mas não era o tipo de cisto que deveria permanecer em minha mama. Eu queria discutir com o médico como seria o procedimento da retirada do cisto, e já combinar uma data para depois do período de férias escolares.

Quando me sentei à mesa do consultório, o mastologista me estendeu o papel com o laudo de meu exame. Meus olhos percorreram o papel em busca do resultado: “carcinoma ductal invasivo Grau 3”.

As primeiras palavras que escaparam de minha boca, instantaneamente, foram:

- Vou perder meus cabelos?

Não me considero uma pessoa fútil. Mas minha primeira dúvida, medo, pavor, temor, angústia, ou sei lá o que era, aquela que brotou do fundo de minha alma se relacionava aos cabelos. Algo dentro de mim, do mais profundo do meu ser, do meu inconsciente, subconsciente, sei lá de onde, não se preocupou com a dor, o sofrimento, a morte, as consequências... mas sim, com os cabelos. Por que será?

Será que os cabelos são o que menos importa?

Evidentemente, depois senti medo de morrer, de sofrer... mas naquele momento eu não me sentia doente. Tinha um caroço em meio seio direito, mas de resto, estava tudo normal.

Minha mãe havia tido câncer de mama e morreu com metástases múltiplas quando eu tinha 22 anos. Desde então, a cada seis meses eu ia ao médico fazer exames preventivos. A princípio eu era meia neurótica. Achava que repetiria a história de minha mãe, que seria apenas uma questão de tempo. Quando descobri que somente 10% dos casos da doença são hereditários, relaxei. Continuei a fazer meus exames, mas já sem medo. Certamente eu estaria entre os 90% da população que não possui carga genética modificada.

Nem todos os quimioterápicos derrubam os cabelos, mas os do câncer de mama com certeza detonam qualquer cabeleira. E uma única sessão é suficiente para causar um grande estrago.

“Cabelo é o de menos!”

Devo ter dito isso às muitas mulheres de minha vida que descobriram ser portadoras dessa doença. Talvez você também tenha dito o mesmo. Mas eu não gostava de ouvir essa sentença de ninguém.

Percebi que as pessoas ao meu redor não aceitavam o fato de eu estar com uma doença super grave, que provoca muito sofrimento e pode levar à morte, e demonstrar tristeza pelos meus cabelos. O que ninguém entendia é que o câncer é uma doença que provoca muitas perdas. Em mim levou as duas glândulas mamárias, os dois ovários, as duas trompas, meu útero, os cabelos, só para falar em coisas mensuráveis. Me fez perder uma das melhores fases de meu filho e muitas primeiras coisas que ele fez, além do elo que tínhamos, ele e eu, que nunca mais foi o mesmo... Foram 5 cirurgias, muitos pós-operatórios, muito tempo acamada e perdas imensuráveis.

Os cabelos são como a gota d’água que transborda um copo que já está cheio.

Como não podia falar disso com ninguém, passei a chorar por esse motivo sempre que estava sozinha. Uma semana depois minhas lágrimas secaram. Por esse motivo, que fique claro!

Comecei a pensar que proveito poderia tirar dessa experiência. Me decidi a cortar os cabelos curtos. Eu os usava longos já há uns vinte anos e morria de medo de que curtos eles ficassem muito armados. Mas como iriam cair de qualquer jeito, não tinha mais nada a perder. Então fiz várias fotos para me lembrar de como eles eram, e dezesseis dias depois de meu diagnóstico, pedi ao meu cabeleireiro que os cortasse.

Havia, enfim, descoberto que houve um tempo para ter cabelos longos, haveria um tempo para tê-los curtos, outro tempo para não tê-los...

Mas voltando aos comentários, quando alguém me dizia que “cabelo é o de menos”, eu sentia uma raiva tão grande, que sentia vontade de responder:

- Teu C...! Cabelo realmente é o de menos! O de menos na minha cabeça, porque na sua não vai faltar!!

Sei que as pessoas queriam apenas me consolar, mas não consolavam. Só invalidavam meus sentimentos como se, por ter câncer, eu estivesse proibida de me entristecer por uma coisa tão fútil! Poderia sofrer pelas dores que me aguardavam, pelo medo da morte, por minha vida, meu filho, mas por cabelos, NÃO!

Uma amiga me perguntou o que seria mais adequado  dizer a uma pessoa que acabou de saber que está com câncer. Há anos penso na pergunta dela, e acho que só agora cheguei a uma resposta. E a resposta que eu gostaria de ouvir das pessoas ao meu redor era:

- Puxa, que doença terrível essa! Quase não dá para acreditar que você perderá seus cabelos. Sei que você gosta demais deles e os cuida muito bem. O lado bom é que quando tudo acabar e você estiver curada, pelos menos os cabelos voltarão a crescer!

Sugiro que antes de disparar inconsequentemente “Cabelo é o de menos!”, você faça duas perguntas à mulher que acabou de descobrir que está com câncer:

- Quanto tempo você gasta por dia para arrumar seus cabelos?

- Quanto dinheiro gasta para cuidar deles?

Se essa mulher tiver que secar os cabelos antes de sair de casa, se for adepta da tintura, luzes ou mechas, escova progressiva ou definitiva, então os cabelos são muito importantes para ela. Fazem parte de uma identidade visual, são a moldura da beleza e contribuem para que a autoestima dela esteja em alta. E o tratamento do câncer provoca tantas mudanças no organismo que empurra a autoestima de qualquer pessoa para abaixo de zero. Além do que, uma mulher careca é sinônimo de câncer. As doenças mais comuns que conhecemos ficam guardadas dentro do doente, discretamente. O câncer faz questão de estampar sua existência e anunciá-la ao mundo por meio da ausência de cabelos e do inchaço típico dos corticoides.

Mesmo que você pense que “cabelo é o de menos”, talvez não seja necessário dizer essa verdade a uma pessoa que está prestes a perder muitas coisas... inclusive seus cabelos.

8 comentários:

  1. Minha amada, preciosa e cabeludíssima amiga, o tsunami que passou pela tua vida só conseguiu te deixar melhor como pessoa e ainda mais bonita como mulher, afinal o teu atual cabelo te conferiu um visual mais moderno. Quanto aos comentários que as pessoas fazem... bem... claro que é na melhor das intenções mas no fundo é resultado de uma falta de habilidade que todos temos frente ao sofrimento alheio, é quase que um discurso pronto, um roteiro básico para tentar minimizar o sofrimento do outro da forma mais convencional. Paradoxalmente esse script só funciona para piorar ainda mais a situação porque talvez o que o sofredor queira é alguém que compartilhe um pouco da sua dor e não alguém que mostre "superioridade" na análise da situação, fazendo com que o sofredor, além do próprio sofrimento, ainda sofra por sentir que não tem direito a fraquejar. Obrigada por nos trazer mais sensibilidade. Love U 4ever.
    Rô Fidelis

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  2. Na minha opinião, mesmo sem ter tido câncer, sou extremamente empática com qualquer sofrimento. E me arrisco a dizer que as doenças e os momentos mais dramáticos que passamos são uma forma da vida dizer que está na hora de uma grande mudança: Está na hora de olhar para dentro e não para fora, como fazemos todos os dias. Recentemente uma colega, que está com o marido internado com câncer de pâncreas me disse: Não dá pra se programar pra viajar quando a gente aposenta: Agora que estamos com filhos criados, e que iríamos "curtir a vida" um pouco, aconteceu isso...E aí eu comecei a refletir: "Os momentos difíceis acontecem em diferentes fases da vida, e testam a nossa força e coragem. E o que parece ser o nosso momento mais frágil é o momento em que somos mais fortes!"

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  3. Parabéns, mt fofo seu blog. Minha irmã mais velha tem cancer de ovário há sete anos, lamentável porém a doença voltou depois de 3 anos do primeiro tratamento. Sim eu compreendo o quanto não êh fácil ouvir q perder os cabelos êh o d meno, mas quem não acompanha d perto os dramas d um paciente com cancer não sabe o q dizer. O paciente com cancer tem o direito d sofrer até pelo q êh d menos. E quando dizem então q êh carma, vontade de Deus, aí então eh desanimador. Eu tenho uma ligação mt forte com minha irmã, não êh fácil,toda família sente dor, mas não sentimos revolta. Não vou lhe dizer q vc venceu a luta contra o cancer pq tb não gosto dessa frase, ninguém diz q alguém trava uma luta contra o diabetes...viver êh lutar,estando doente ou não. A vida êh perigosa, porém eu acredito q os atrevidos lidam melhor com os infortúnios e até driblam a seleção natural! Pelo q li no seu blog vc aproveita bem o bom da vida! Eu lhe desejo uma vida longa e cheia de saúde!! Ah gostaria d lhe fazer uma pergunta...minha irmã êh um caso único d cancer na minha família, os médicos não me indicam fazer o exame genético pois não acreditam ser um caso hereditário. Vi q vc retirou os ovários? Vc fez o exame pra saber se tem o erro no gen q esta ligado aos tipos de cancer de mama e ovário? Bjssss!! Gi

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  4. Ola amiga, tudo bem??? Hoje li teu blog, quase morri de chorar, tu fostes uma guerreira, Há momentos em minha vida que passa todo o filme de terror do meu Jorge pela mente, e te digo, voces são vencedores, pois o Jorge dizia que em cada quimio era uma descida ao inferno, acredito que sim, pois era uma semana vomitando sem sair do quarto, meu Deus.....!!!!!!! Amiga é linda a sua vitalidade, sua coragem,sua determinação. DEUS ABENÇOE SUA VIDA RICAMENTE, JUNTAMENTE COM SUA FAMILIA, MARIDO E FILHO, JÓIA PRECIOSA, CHUVAS DE BENÇÃOS CAIAM SOBRE TI, UM FORTE ABRAÇO QUE AINDA HEI DE DÁ-LO PESSOALMENTE QUANDO FOR AO BRASIL. BJSSS MINHA LINDA
    NEIDE OLIVEIRA

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  5. Oi Fabi,

    Estou adorando a reativação do blog! Estou acompanhando!!! Acho que vc conseguiu desmistificar um assunto meio que proibido sobre o qual há ainda um tabu para se falar abertamente. Difícil isso! E vc consegue abordar com simplicidade e naturalidade. A primiera vez que li um post o fiz meio temerosa do que encontrar,mas hoje vejo que na verdade não estamos imediatamente prontos a lidar com o que não faz parte de um projeto "perfeito" ou melhor, previsível. Mas a vida é assim não é mesmo?! Obstáculos, intempéries e imprevistos. Mucho bom!!!!
    FGP

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  6. Prima li seu post. Não contive as lágrimas... Não pelos seus cabelos mas por contemplar em todas as fases seu lindo sorriso sempre estampado e revelando a sua beleza e grandeza de alma. Cabelo realmente é o de menos, afinal são células mortas... Sorriso é demais, transmite alegria da alma. De uma alma que não luta só e se rejubila em Deus.
    AL

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  7. Oi, Fabi, mais uma vez li o seu blog e fiquei a me perguntar, qual foi a minha reação quando fiquei sabendo... Sinto q compartilhei pouco essa fase, mas sempre acreditei q o Alexandre foi a benção de Deus para todas as etapas, as 5 cirurgias... só vc mesmo minha querida amiga para, muito consciente e realista, fazer o q se tem que fazer, como registrar a careca, q a deixou linda, tá a prova. Tenho-a no meu coração.
    Rúbia

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  8. Hoje é o terceiro dia da minha careca. Resolvi procurar algo pra melhorar o visual além dos lenços que esquentam rsrs, foi ai que achei seu post e resolvi ler! Amei, pois acho que vou assumir a carequinha!Que Deus possa abencoa-la como já tem feito! E você foi perfeita quando disse que uma mulher careca é sinônimo de câncer. Bjs....

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