segunda-feira, 8 de agosto de 2011

O Grande Enigma da Maternidade


Antes de receber a visita definitiva de uma cegonha, eu sempre perguntava a minha psicóloga:
- Me diga: como é que uma mulher gesta um filho durante nove meses, passa mal, sente dores no parto, às vezes dificuldades para amamentar, acorda à noite para cuidar do filho pequeno, dorme pouco, trabalha muito, vive cansada e ainda tem coragem de dizer que ser mãe é bom? Isso não entra na minha cabeça!
O ano de 2009 foi bastante atípico e emocionante para minha família.
Meu marido e eu estávamos aguardando uma cegonha chegar a qualquer momento. Em meus planos, 2009 seria o ano da preparação da casa. Encomendamos os móveis da cozinha em Janeiro, e a cegonha conseguiu chegar antes deles.
Quando o trouxemos nosso Filho pra casa descobrimos que não tínhamos sequer sabonete infantil em casa, o que se dirá de banheira? Também não tínhamos um berço! Aliás, o quarto do Alexandre estava repleto de caixas com nossos utensílios de cozinha. Mesmo assim, colocamos um colchão no chão e o pusemos pra dormir lá.
O primeiro final de semana foi sensacional: tivemos visitas, um chá de bebê providencial (porque tínhamos o essencial, mas nos faltava quase todo o resto), o Papai participou de sua primeira corrida de rua, agora na qualidade de Pai, cruzando a linha de chegada com o Filho nos braços!
Quando chegou a primeira segunda-feira do resto de nossas vidas é que percebi como me sentia segura ao lado do meu Marido, e como o inverso era verdadeiro.
Eu tentava fazer coisas que nunca tinha feito antes em toda a minha vida: dar atenção ao meu Filho, seguir uma rotina com ele, e ao mesmo tempo dar conta de fazer a comida, lavar as roupas e as louças (que resolveram procriar como coelhos), manter tudo em ordem... resumindo, eu tentava driblar, cabecear, marcar o gol e jogar na defesa, tudo ao mesmo tempo. Me sentia um fracasso completo!
O Alexandre havia desenvolvido muitas habilidades motoras, mas falava poucas palavras. Quando ele me dizia coisas que eu não entendia - e acreditem, isso acontecia em quase 90% do tempo - eu dizia:
- Filho, eu sou a sua mãe. Supostamente eu deveria entender tudo o que você me diz. Mas eu não entendo nada! Ele ficava bravo comigo, desafiava minha autoridade e encenava birras dignas de uma produção cinematográfica. Quando eu ficava brava ele tentava me seduzir com um sorriso muito engraçado (que era de derreter o coração, tenho que admitir) pra converter a bronca num carinho. Percebi que, com apenas um ano e oito meses, meu Filho já conhecia a arte da sedução e tentava me manipular. Eu tinha que ser firme e não rir, e como era difícil! 
Não era só eu que estranhava a nova rotina. O Alexandre também! Ele acordava a cada meia hora ou quarenta minutos todas as noites. Durante o dia eu não podia sair da vista dele que o garoto gritava feito um louco.
Passei a acordar às seis horas da manhã pra tomar um banho com calma, ter um café da manhã sossegada no meio da bagunça geral, só que, de alguma forma qeu não compreendo, parece que havia alguma conexão entre nós - quanto mais cedo eu acordava, mais cedo ele acordava também. 
No sexto dia de maternidade ele acordou tão cedo que eu mal tive tempo de me vestir depois do banho. Tomar café, nem pensar! Eu costumava almoçar quando ele dormia após o almoço. Nesse dia ele não dormiu à tarde (e eu não almocei). Eu não podia imaginar como uma criança pode ficar tão agitada quando está com sono! Meu Deus, eu sentia fome, e sede, e vontade de ir ao banheiro e o menino não me deixava um segundo sequer!
Quando meu Marido chegou em casa à noite, o Alexandre estava agitadíssimo, a casa estava de pernas pro ar, eu estava com mais sede, fome e sono do que nunca, e à beira de um ataque de nervos!!!!!!! Quando percebeu que eu estava com um humor de morte, ele pegou nosso Filho nos braços e o levou pra um passeio. Quando chegou em casa eu estava lavando roupas, chorando e me questionando:
- O que foi que eu fiz da minha vida? Estava tudo tão tranquilo! Agora eu nunca mais vou conseguir dormir uma noite inteira! Nunca mais vou poder tomar um banho devagar, ou fazer uma refeição com calma, sem interrupção! Ou mesmo ir ao banheiro! O que foi que eu fiz com a minha vida, meu Deus???????
Depois que o Alexandre dormiu, meu Marido me deu uns conselhos óbvios: 
- Você tem que ensinar ao nosso Filho que você tem necessidades e ele tem que respeitá-las.
Eu, que era super independente em tudo, agora precisava me explicar, me justificar, contar cada um dos meus passos a um mini-homem, de apenas 85 cm de altura! Era só o que me faltava!
Entre tentativas, erros e acertos, muitas birras, choros, mordidas, cadeiras do pensamento, cócegas, risos, brincadeiras, teimosias, virose, madrugada no pronto-socorro, adaptação à escola, vacinas, retorno ao trabalho, a família toda se adaptou à nova rotina e tudo voltou para os eixos novamente, considerando-se que os eixos era muito diferentes agora.
Tenho que confessar que quando aquele pequeno projeto de homem me chamou de Mamãe pela primeira vez me olhando nos olhos, ele me fisgou pra todo o sempre! Fiquei completamente apaixonada por aquele menininho lindo de olhos verdes! Mal podia crer que eu era a mãe dele! Eu me sentia a mulher mais feliz e realizada do mundo!
Fui com minha família visitar minha psicóloga, dessa vez como amiga. Depois da chegada do meu Filho não tive mais tempo para fazer terapia.
Observando a dinâmica de minha família, dessa vez foi ela quem me perguntou:
- Você conseguiu resolver seu grande enigma de maternidade? Por que as mulheres ainda gostam de ser mães, com toda a trabalheira que dá?
- Sim, consegui.
- Entrou em sua cabeça?
- Não. Descobri que não entra na cabeça; entra no coração!

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