sexta-feira, 5 de setembro de 2014

Especial Só Para Mulheres

Vamos conversar sobre autoestima e reconstrução mamária?

 


Este blog nasceu após um câncer de mama. Todas as doenças trazem sofrimento aos pacientes, muitos até piores do que o câncer. Entretanto, minha pior experiência, e também a mais forte, foi com essa doença. A melhor de todas foi ter me tornado mãe. Meu filho chegou 10 meses antes da doença e me deu uma grande razão para enfrentá-la.

Minha mãe descobriu um câncer de mama em estágio avançado quando ainda tinha 50 anos. Ela sofreu uma mastectomia radical com esvaziamento axilar.

Mas o que é isso?

A mama dela foi completamente extirpada, inclusive parte do músculo peitoral, e os linfonodos axilares foram todos removidos. As consequências, além da mutilação, foi um linfedema (inchaço) permanente no braço direito, com dores crônicas, e a perda da coordenação motora fina.

A cicatriz dela era mais ou menos assim (a da esquerda, porque ela nunca foi submetida à reconstrução):




Minha mãe morreu quase 1 ano após a mastectomia, com metástases múltiplas.
 
Deus, como ela sofria com essa mutilação!

Em 1995, ano em que ela foi operada, não se falava em reconstrução mamária. Pelo menos não antes do término do tratamento e da cura da doença. Mulheres mastectomizadas conviviam, não somente com suas cirurgias, quimioterapias, radioterapias, cabeças carecas e efeitos colaterais. Conviviam também com os efeitos físicos e psicológicos da mutilação. Um órgão diretamente ligado à feminilidade e autoestima era amputado, extirpado, removido, arrancado delas.

Conheci mulheres que se entristeciam ainda mais pelo fato de seus maridos não mais se aproximarem delas para o namoro, o contato físico, a carícia... Elas me davam pena. 

Penso também na repulsa que os maridos sentiam, mesmo sem querer, ante a visão dessas cicatrizes grosseiras, e tão profundas que ultrapassavam os limites do corpo e marcavam a alma! Eles também me davam pena!

Uma das mulheres que conheci quando estava em tratamento quimioterápico era baixa, loira, de olhos claros, talvez pouco mais de 40 anos, muito bonita. Seu marido era médico. Ela me contou que já estava operada há mais ou menos 6 meses, e que seu marido nunca mais se aproximara dela após a cirurgia. Ele sequer vira as sequelas físicas da cirurgia que removera uma de suas mamas, tampouco a cicatriz física da mastectomia... menos ainda a cicatriz emocional que sua atitude forjava na alma de sua esposa que, provavelmente, um dia, fora o amor de sua vida.

Minha amiga Cidinha Rossi, a pessoa mais alegre que conheci, teve câncer de mama antes de mim. Ela foi tratada por uma equipe médica maravilhosa, tanto em habilidade, conhecimento e perícia técnica, quanto em preocupação e comprometimento com o lado emocional da paciente.

Sua cirurgia envolveu a remoção do câncer mamário com reconstrução num mesmo momento cirúrgico. E ela ficou ótima sob o ponto de vista da autoestima e autoimagem.

O primeiro oncologista que consultei me considerou paciente de alto risco para câncer de mama e queria que eu fosse submetida à mastectomia radical bilateral. O que significa isso? A remoção completa de minhas duas mamas, com pele e mamilos, tudo junto. Mais ou menos assim:


 



Eu tinha medo de ficar como a minha mãe ficou!
 
Eu tinha medo de me sentir mutilada!

Eu tinha medo de que o meu marido ficasse tão horrorizado que não me quisesse mais como esposa dele!
 
Eu tinha medo de que o olhar amoroso dele fosse substituído pelo de repulsa, aversão pelo meu novo formato!

Eu tinha medo de não me sentir mais mulher sem meus seios!

Eu queria encontrar médicos que pensassem que uma mulher enfrenta melhor esse grande desafio quando está com uma mama no lugar daquela que adoeceu.

E quem procura, acha. Com a ajuda da Cidinha, que abriu o caminho, fui levada até essa equipe.

Escolhi uma cirurgia parecida, mas não totalmente igual, à da foto abaixo. A diferença essencial é que a mama direita não ficou com a mesma cicatriz da foto, mas sim com um T invertido, como a das plásticas mamárias comuns. A cicatriz da barriga se deve à utilização de músculo e gordura abdominal para a reconstrução da mama. Chama-se reconstrução TRAM.


 

Somente um médico mastologista, ou oncologista, ou ainda cirurgião oncologista, juntamente com um cirurgião plástico, é que poderão definir os casos que podem ser tratados com a reconstrução mamária no mesmo momento cirúrgico da remoção do tumor.

Em minha busca por tratamento notei que os médicos, principalmente os mais antigos na profissão, tratavam a questão da reconstrução como secundária e até mesmo de caráter meramente estético, como se não fizesse parte do tratamento e, tampouco, da cura.

 
Este blog não se destina a diagnosticar e tratar a doença. Isso é tarefa dos médicos, e não de qualquer médico, somente dos especialistas no assunto. Este post, por exemplo, visa apenas mostrar que muitas vezes há outras alternativas, que não nos são apresentadas de cara, quando precisamos delas. Eu sinto que corri uma maratona atrás dessa alternativa.

Tendo em mente que a doença vai atingir em cheio muitos aspectos ligados à feminilidade, à autoestima, à autoimagem, e que tudo isso influencia o enfrentamento do tratamento, preferi encarar tudo o que vinha pela frente de peito aberto e com peito!




As cicatrizes, as do corpo e da alma, as carrego comigo.




E elas me lembram, todos os dias, que essa foi a pior e mais forte experiência de minha vida, e foi ótima sob muitos aspectos, pois a usei para me tornar um ser humano melhor, senão para os outros, pelo menos para mim mesma.

Após as experiências da maternidade e do câncer, já não sinto tantos medos.

Sinto, porém, que se tiver que enfrentar situação semelhante, com ou sem cabelos, com ou sem mamas, já não trago comigo o receio de não me sentir mulher.

Descobri que minha maior característica feminina não são os seios, mas a força que trago em mim de enfrentar a vida de frente, com disciplina e coragem, com capacidade para rir de mim mesma, e de peito aberto, com ou sem mamas.

(As imagens publicadas neste post são públicas e foram todas copiadas da internet, sem fonte específica)
 

Um comentário:

  1. parabéns pela força, coragem e principalmente a força que vc nem imagina de onde vem, vem de deus!!!

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