Por Rô Fidelis
Mulher careca, num dia de Sol, lenço, boné, peruca ou só um filtrozinho solar básico?
R: Filtro solar sempre! Mas eu não dispenso um boné moderno que confere um certo charme ao visual.
O que mudou da mulher cabeluda (a.C.) pra mulher careca (d.C.)?
p.s.: a.C - antes do câncer
d.C - depois do câncer
R: A principal mudança foi que (a.C.) eu pensava nos outros em primeiro lugar e, se sobrasse tempo ou possibilidades de me agradar no final, eu estava no lucro.
No outro extremo (d.C) agora penso primeiro em mim, sem culpa.
No outro extremo (d.C) agora penso primeiro em mim, sem culpa.
Os pelinhos fazem falta ou só servem pra fazer a alegria da depiladora?
R: Os únicos pelinhos que fazem falta, e fazem uma FALTA DANADA são os CÍLIOS e SOBRANCELHAS. Nem me senti feia careca, mas sem os tais cílios e sombrancelhas...
Uma mega banana split ou um capuccino cremosíssimo?
R: Capuccino cremosíssimo, sem sombra de dúvida, no inverno e no verão!
Você percebeu alguma mudança na reação das pessoas desconhecidas (na rua) em relação à vc careca?
R: Sim. Passei a ser notada. Me destacava. Notei muitas caras de espanto do tipo "O que essa louca está fazendo sem os cabelos?" e também recebi elogios. O visual exótico chamava a atenção.
Praia, neve ou campo?
R: Praia.
O que é, digamos, desagradável na reação de alguém quando você conta que teve câncer?
R: Aquela dramatização que certas pessoas fazem de um sofrimento maior do que o meu, que tive câncer, simplesmente por saberem que eu tive a doença.
E a banalização do sofrimento que o paciente de câncer viveu - e que certamente foi a pior da vida dele - com a citação de uma porção de exemplos de pessoas que também tiveram o problema e "tiraram de letra", como se isto fosse a coisa mais fácil do mundo.
E a banalização do sofrimento que o paciente de câncer viveu - e que certamente foi a pior da vida dele - com a citação de uma porção de exemplos de pessoas que também tiveram o problema e "tiraram de letra", como se isto fosse a coisa mais fácil do mundo.
É chato ter que contar como está o tratamento e seria melhor se não perguntassem ou falar do assunto é tranquilo?
R: Nem um pouco chato. Falo sobre a doença e o tratamento com naturalidade. Não tenho nenhum problema com isso. Só que é preciso dosar o que se vai falar, porque muitas pessoas perguntam apenas por educação.
Macacão de listras coloridas ou blusinha básica branca?
R: Blusinha branca básica. Confesso que é o que tem em metade do meu guarda-roupas.
O que é chato ouvir de alguém sobre a doença?
R: Xiiiiii... essa lista é meio extensa, mas vou focar o que mais me incomodava e dizer porquê.
1. Ouvir que a doença foi vontade de Deus. PONTE QUE PARTIU! Eu sou mãe, e super imperfeita, erro muito; mesmo assim, com toda a minha humanidade, sou um ser humano (imperfeito, lembrem-se!) incapaz de projetar qualquer tipo de sofrimento para a vida do meu filho. O Deus em Quem eu creio é AMOR em toda a sua essência, e jamais mandaria qualquer tipo de sofrimento a nenhum de seus filhos. A doença faz parte de minha condição humana, e enquanto eu estiver na condição humana estou sujeita a todas as suas mazelas. Pra que ninguém me interprete mal, quero salientar que, crer que Deus estava ao meu lado, me ajudou a não me sentir sozinha durante o período em que me senti atrassando um longo e escuro túnel.
2. Ouvir que foi você quem produziu a doença em seu corpo, seja com seus pensamentos ou suas atitudes. Não estou dizendo que eu não tenha responsabilidade sobre isso, mas quando eu me sentia com o pé na ante-sala do purgatório, esse tipo de comentário só me trazia sentimentos de culpa e questionamentos que me deixavam muito mal. E tristeza detona o sistema imunológico de qualquer ser humano. A quimio também derruba, e ela não precisa de uma mãozinha extra.
2. Ouvir que foi você quem produziu a doença em seu corpo, seja com seus pensamentos ou suas atitudes. Não estou dizendo que eu não tenha responsabilidade sobre isso, mas quando eu me sentia com o pé na ante-sala do purgatório, esse tipo de comentário só me trazia sentimentos de culpa e questionamentos que me deixavam muito mal. E tristeza detona o sistema imunológico de qualquer ser humano. A quimio também derruba, e ela não precisa de uma mãozinha extra.
3. A tirania do pensamento positivo. Quando eu estava nos dias bons - e dias bons não querem dizer dias ótimos, com tudo normal; querem apenas dizer que eu não estava tão ruim - eu até conseguia pensar positivo, ter fé e esperança de que tudo iria melhorar, de que o tratamento seria apenas uma fase difícil de minha vida. Mas quando eu fazia quimio e ficava vários dias seguidos me sentindo muito mal, sinceramente, eu não conseguia pensar positivo. A única coisa que eu conseguia era me retirar, ficar quietinha, tentando não atrapalhar ainda mais a vida de minha família, repetindo pra mim mesma: "Vai passar". Só isso. Então eu me culpava por não estar conseguindo ser "positiva". Ora, gente, só o fato de aguentar a barra e não reclamar já exigia um esforço homérico. Nessas horas eu não conseguia ser Poliana. Só que eu também não queria me sentir mal por causa disso. Eu já estava fazendo o meu melhor.
O que é legal ouvir de alguém sobre a doença?
R: Os exemplos de pessoas que conseguiram vencer a doença e que fazem a diferença na vida de outras pessoas, que a medicina descobriu um novo medicamento que aumenta as chances de cura, que algumas terapias alternativas ajudam a melhorar a qualidade de vida durante o tratamento, que há livros gostosos de ler que tratam do universo da doença de maneira leve até mesmo divertida, que alguém conhecido ou desconhecido gostaria de conversar contigo pra partilhar uma experiência e te dar uma força, ou pra recebers uma força, entre tantas outras coisas legais.
Manjericão, pimenta ou alho?
R: Os três! hummmmmm... que delícia!
Qual é a atitude ideal da família, dos amigos e dos desconhecidos em relação a alguém com câncer?
R: Dar apoio. Só que esse apoio é diferente de uma pessoa pra outra. No meu caso, receber apoio, significava ter alguém pra me ouvir, aceitando meus sentimentos sem me criticar e que ao final essa pessoa pudesse simplesmente me dizer que estava ao meu lado torcendo por mim, "tocando os tambores" pra me guiar enquanto eu atravessava meu túnel escuro.
Uma lembrança que aquece o seu coração.
R: Uma só é difícil, pois tenho várias. Foram tantas as demonstrações de carinho e apoio que recebi, graças a Deus e aos amigos queridos que me cercam.
Como é pra mencionar apenas uma, vou colar logo abaixo o e-mail que recebi de uma grande amiga, em 04/12/2009, com o título "Yesterday", cuja lembrança permanece em minha memória:
"Minha querida amiga,
Ontem passamos o dia juntas e foi ótimo. Fazia tempo que não tínhamos tanto tempo livre só pra nós não é mesmo? Então, sabe que em alguns momentos eu tive vontade de te dizer algumas coisas mas não quis “estragar” o clima com assuntos melodramáticos, provavelmente tudo o que vc não precisa agora é mais gente fazendo drama perto de vc. Bom, como acho que falar olhando diretamente pra vc, sem chorar, vai ser impossível e não quero que vc protagonize comigo nenhuma cena de novela mexicana, aliás, se for pra encenar qualquer coisa, que seja um episódio da Nigela, né?? resolvi escrever, porque acho que é importante que vc saiba o que quero te dizer. É o seguinte, essa batalha que vc tem pela frente, infelizmente será uma luta só sua, mas como disse a raposa ao pequeno príncipe: “vc é responsável por aquilo que cativas”, vc tem cativado ao longo da sua vida, fortes e verdadeiras amizades, então tenha certeza de que apesar de a luta ser só sua, vc não ficará sozinha no campo de batalha não, estaremos eu e várias outras pessoas que te conhecem e te amam tanto quanto eu te amo ao seu lado, te apoiando, te levando amizade, companhia e um capuccino com creme. Não esmoreça minha amiga! vc é uma fortaleza e vai precisar dessa enorme força interior que vc tem e eu tanto admiro. Prometo que, seguindo seu exemplo, vou também tentar me fortalecer para ajudá-la a manter o bom astral.
Te amo muito. Vc é responsável por mim.
Beijo.
Rô"
Como é pra mencionar apenas uma, vou colar logo abaixo o e-mail que recebi de uma grande amiga, em 04/12/2009, com o título "Yesterday", cuja lembrança permanece em minha memória:
"Minha querida amiga,
Ontem passamos o dia juntas e foi ótimo. Fazia tempo que não tínhamos tanto tempo livre só pra nós não é mesmo? Então, sabe que em alguns momentos eu tive vontade de te dizer algumas coisas mas não quis “estragar” o clima com assuntos melodramáticos, provavelmente tudo o que vc não precisa agora é mais gente fazendo drama perto de vc. Bom, como acho que falar olhando diretamente pra vc, sem chorar, vai ser impossível e não quero que vc protagonize comigo nenhuma cena de novela mexicana, aliás, se for pra encenar qualquer coisa, que seja um episódio da Nigela, né?? resolvi escrever, porque acho que é importante que vc saiba o que quero te dizer. É o seguinte, essa batalha que vc tem pela frente, infelizmente será uma luta só sua, mas como disse a raposa ao pequeno príncipe: “vc é responsável por aquilo que cativas”, vc tem cativado ao longo da sua vida, fortes e verdadeiras amizades, então tenha certeza de que apesar de a luta ser só sua, vc não ficará sozinha no campo de batalha não, estaremos eu e várias outras pessoas que te conhecem e te amam tanto quanto eu te amo ao seu lado, te apoiando, te levando amizade, companhia e um capuccino com creme. Não esmoreça minha amiga! vc é uma fortaleza e vai precisar dessa enorme força interior que vc tem e eu tanto admiro. Prometo que, seguindo seu exemplo, vou também tentar me fortalecer para ajudá-la a manter o bom astral.
Te amo muito. Vc é responsável por mim.
Beijo.
Rô"
A mulher careca, de alguma forma, foi melhorada pelo câncer? tipo, adquiriu algum bom hábito, mudou seu ponto de vista sobre algum assunto...
R: Sim, A Mulher Careca saiu do sedentarismo que era seu pior e mais arraigado hábito. Você pode acreditar que há um ano atrás ela não conseguia correr uma quadra e agora corre 4 ou 5 quilômetros, habitualmente?
Ela também passou a dar preferência aos alimentos orgânicos e fez ajustes sensíveis em seus hábitos alimentares. Particularmente, acho que ela está se amando e se cuidando mais atualmente do que antes da doença.
Ela também passou a dar preferência aos alimentos orgânicos e fez ajustes sensíveis em seus hábitos alimentares. Particularmente, acho que ela está se amando e se cuidando mais atualmente do que antes da doença.
Pra finalizar: O que a mulher careca espera/planeja para o futuro, além de reaver suas belas madeixas?
R:
1. Nunca mais ter câncer!
2. Fazer alguma diferença na vida de pessoas que enfrentam a doença ou que convivem com pacientes de câncer. Só não consegui descobrir como fazer isso, AINDA.
1. Nunca mais ter câncer!
2. Fazer alguma diferença na vida de pessoas que enfrentam a doença ou que convivem com pacientes de câncer. Só não consegui descobrir como fazer isso, AINDA.
Oi querida fabiana ,
ResponderExcluirLi a sua entrevista e amei seu jeito lindo de ser.
Gente estudei com essa menina ,sempre foi admirável e a primeira aluna sempre...passei aqui apenas para desejar a vc muitas felicidades e que Deus a abençõe muito!
Saudades de vc !Bjo!
Adorei sua entrevista, Mulher Careca! Só tenho duas observações a fazer:
ResponderExcluir- Primeiro: seu blog já é uma forma de fazer a diferença.
- Segundo: não precisa ficar com vergonha de dizer que vc prefere um MEEEEEGA BANANÃO SPLIT, auehahue. Bjs, Sabrina.
Querida Silvana!
ResponderExcluirVocê nem pode imaginar a alegria que sinto em te reencontrar aqui no blog depois de tantos anos!
Obrigada por prestigiar esse trabalho e continuar sendo aquela Silvana doce e carinhosa que conheci na escola.
Grande beijo,
Fabiana
SáColla,
ResponderExcluirque bom que você apareceu por aqui!
Escrever o blog tem sido muito gratificante, mas quanto a "fazer a diferença" fico em dúvida se o que escrevo pode realmente ajudar. Mesmo assim, estou gostando e pretendo continuar.
De qualquer forma, obrigada pelo lembrete. Vou mantê-lo em mente.
Sobre a banana split, ah, você me conhece e sabe o que eu prefiro, não?
Super beijo,
Fabiana
Esta entrevista está demais. Só você e a Rô para protagonizarem uma situação tão delicada e cheia de significado e ainda compartilham com a gente.
ResponderExcluirEsta entrevista me tirou uma série de dúvidas porque sempre fico com o pé atrás sobre como abordar o assunto sem ser chata, egoísta (porque a maioria das pessoas é quando perguntam sobre outros, transferindo seus medos e frustrações para a pessoa que já está fragilizada). Sou muito grata a Deus por conviver contigo Fabiana e pode estar certa, estou com os tambores à pleno braço.
Amo você.
Lu.
Luaepoeta!
ResponderExcluirVocê tem participação especial nesse blog. Lembra-se de quantas vezes me incentivou a escrever, ao menos pelo efeito terapêutico?
Me lembro perfeitamente de estarmos em sua sala de estar e receber seu incentivo, além de outras vezes em que fui cabeça dura.
Então me sinto muito feliz por ajudar a sanar algumas dúvidas.
Acho muito importante lembrar que seus tambores ritmaram meu coração pra chegar até aqui, e hoje ele transborda de muita, muita gratidão pela sua amizade e das outras Amigas maravilhosas que me ouviram, me aconselharam, e que ainda permanecem ao meu lado me motivando a tentar fazer algo mais.
Amo você, também!
Fá
MEU DEUS, QUE MULHER É ESTA!!!
ResponderExcluirMinha querida amiga de infância, Fabiana!!!!
Vc não tem noção como estou me sentindo depois de ler tudo isso....
Que Entusiasmo amiga... isso é muito bom... vc consegue fazer a gente ficar entusiasmada tb...
Sabe, me lembro com muito carinho das minhas férias em Jaguapitã, das nossas brincadeiras, dos nossos passeios de bike, nas nossas idas a praça e da Piscina então... enfim de tudo...
Vc não sabe mas sempre que voltava pra SP depois das férias me espelhava muito no seu comportamento, na sua maneira de ser com sua mãe e seu pai.... desde aquela época vc já tinha o dom de entusiasmar a gente...
Lembro que qdo chegava em casa eu ajudava minha mãe nos afazeres de casa como vc ajudava a sua, pois eu achava lindo o respeito e o carinho com q vc fazia as coisas...
Vc sempre me dizia... SÓ POSSO IR BRINCAR DEPOIS DE ARRUMAR A COZINHA DO ALMOÇO...lembra disso???
e qdo chegava em SP eu aplicava isso tb!!! pra minha mãe isso era a glória né!!!! rsrs
Vc tb foi exemplo pra mim com seus deveres escolares... qdo vc me mostrava suas pinturas, seus cadernos...
Sempre falava para minha amigas em SP dos Cadernos da MINHA AMIGA FABIANA DE JAGUAPITÃ!!!
vc nem imaginava isso né... mas é a pura verdade!
E hoje depois de ler tudo oque eu li, me senti como na infância...
Não de ser igual a vc pois ninguém é igual a ninguém, mas com certeza vc mais uma vez influenciou na minha maneira de pensar e agir... obrigada amiga querida FABI!!!
Te adoro... bjs
Como sempre arrasou Fabi! Vc diz que AINDA nao sabe como fazer a diferença na vida das pessoas com câncer?? Claro q sabe... Vc apareceu e fez este blog maravilhoso, que mostra a todos eles que tem vida depois do câncer e que ela pode ser reconstruída! E essa parte vc sabe é a mais difícil, pois todos tem medo do depois q o tto. acabar!!!!
ResponderExcluirParabéns por sua força e coragem!!!!
ResponderExcluirQuando li essa sua entrevista me emocionei muito recentemente passei por um aborto espontaneo e foi tao triste, e ouvir coisas como "Deus quis assim" me deixava arrasada ate ler esse seu blog e comecei a ver a coisa de outra forma e concordo q Deus nao ia querer tanto sofrimento assim não, é? Resolvi te escrever por que as vezes vc se questiona se o seu blog esta ajudando as pessoas, e veja passei por uma coisa tao diferente mas que suas palavras me confortaram tanto que tinha que te agradecer.
Voce sao aquelas pessoas que fazem a diferença no mundo, faz diferença ter te conhecido e conviver com vc. Obrigada e que Deus continue nos dando força!!!
Querida Anacarolinamk,
ResponderExcluirvocê nem pode imaginar o quanto chorei ao ler seu comentário em meu blog!
Você me levou a uma viagem por nossa infância, pras férias que eu esperava tanto chegar pra brincarmos juntas... e quantas coisas nenhuma de nós poderia imaginar sobre a outra...
Obrigada por partilhar suas lembranças comigo.
As minhas são a de que eu tinha uma amiga que morava na maior capital do país, que conhecia muitas coisas chiques, e viajava, e era super bem informada, e saía com os pais para ir a festas, tinha uma educação liberal (considerando os rigores da minha!), mas o melhor de tudo: tinha uma relação de amizade e cumplicidade com os pais que nunca existiu em minha vida.
Quando estávamos juntas eu tinha a sensação de poder viver um pouquinho da sua vida que eu tanto admirava! E continuo admirando, mas hoje por outros motivos.
Sua partilha me deixou muito feliz. E você merece o mesmo!
Obrigada, Amiga!
Beijos,
Querida ALINE,
ResponderExcluirobrigada por fazer parte da historia da reconstrucao de minha vida pos-cancer.
Sua ajuda em minha qualidade de vida tem sido inestimavel. Nem eu poderia imaginar os beneficios que a fisioterapia pode trazer.
Tenho partilhado sua luta pelo reconhecimento de seu trabalho. E o meu voce tem!
Grande beijo.
Querida Vi,
ResponderExcluirobrigada por contar um pouco da historia aqui nesse espaco.
Em sua homenagem, meu proximo post ira tratar da "vontade de Deus".
Grande beijo.